quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Poesia da Matemática


As folhas tantas
Do livro matemático
Um quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma incógnita
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do ápice à base,
Uma figura ímpar,
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez a sua
Uma vida
Paralela à dela
Até que se encontraram
No infinito
"Quem és tu ?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos".
Mas pode me chamar de hipotenusa.
E de falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs
Primos-entre-si
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Retas, curvas, círculos e linhas senoidais.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas
E os exegetas do universo finito
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E, enfim, resolveram se casar
Constituir um lar.
Mais que um lar,
Uma perpendicular
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
Muito engraçadinhos
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo afinal.
Vira monotonia
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
Frequentador de círculos concêntricos
Viciosos
Ofereceu a ela,
Uma grandeza absoluta,
E reduziu-a a um denominador comum
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais um todo,
Uma unidade, era o triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ele era a fração
Mais ordinária
Mas foi então que Einstein descobriu a relatividade
E tudo o que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como, aliás, em qualquer
Sociedade
( Millôr Fernandes }

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